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Armadilha: thriller psicológico bem arquitetado

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Armadilha: direção de M. Night Shyamalan HIPNOTIZADOS, SÓ QUEREMOS SABER COMO TERMINARÁ! Gosto de assistir aos filmes de M. Night Shyamalan. Às vezes me decepciono. Na filmografia do diretor, há vários títulos que me desagradam e que não pretendo revisitar. Há outros que revi e pretendo rever de novo. Tal irregularidade não é um demérito. As ressalvas que tenho aqui e ali são todas por causa da temática ou da abordagem personalista. Não têm relação com o cinema que que ele pratica. Aliás, ele tem pleno domínio da linguagem cinematográfica e se tornou um criativo narrador audiovisual. Por isso, nunca deixo de assistir aos seus longas.           Armadilha , seu filme de 2024, é um thriller de suspense, onde ele aborda o tema perturbador e violento dos assassinos em série. O bom é que dessa vez o diretor resistiu à tentação de enveredar por caminhos sobrenaturais. Evitou empregar elementos de mistério para alimentar pontos de virada que surpreendam o espectad...

O Artista: um filme mudo, eloquente e emocionante

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O Artista: direção de Michel Harzanavivius CINEMA NUM FORMATO HÁ MUITO ABANDONADO O Artista , dirigido em 2011 por Michel Hazanavicius, é um filme mudo. Tem formato de tela mais estreito e é inteiro em preto-e-branco. Ou seja, é um filme como aqueles feitos até o final dos anos 1920. Um cinéfilo distraído talvez não se dê conta de que se trata de um produto do século XXI. O ritmo, os enquadramentos, a iluminação, a performance dos atores... Tudo parece genuíno, até que começamos a reconhecer alguns atores e atrizes frequentadores de filmes mais modernos. A grande pergunta que fica, então, é: por que raios alguém gastaria seu tempo realizando um filme... mudo?           Quando dei o play em O Artista , já imaginava a resposta: seria por puro experimentalismo. Esperei ansioso pelo momento em que tudo viraria um divertido exercício de metalinguagem, com tiradas inteligentes e divertidas sobre o próprio fazer cinematográfico e sobre a evolução técnica que nos t...

O Infiltrado: remake hollywoodiano de um filme francês

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O Infiltrado: direção de Guy Ritchie UM HOMEM FURIOSO E ENVOLTO EM MISTÉRIOS Realizar um filme de ação é como preparar uma pizza. Antes que você engasgue com a arrogância da minha afirmação, deixe-me desenvolver essa metáfora gastronômica. Um pizzaiolo cuida de preparar a massa conforme a tradição, para mantê-la saborosa, crocante e com a textura que todos conhecemos. Depois, usa um molho com personalidade e aplica um bom muçarela. Por fim, usa a criatividade para cobrir sua obra com as mais inusitadas combinações de ingredientes, a gosto do freguês. Mas há limites: extravagâncias descaracterizam o produto. Para não servir uma gororoba que apenas vagamente lembre uma pizza, o pizzaiolo sensato tem que se ater ao... arquétipo da pizza. Usar apenas ingredientes consagrados.           O diretor de um filme de ação segue a mesma receita. Pega um mote envolvente, concentra-se na essência do protagonista e destaca os elementos dramáticos que desencadeiam a ação. ...

Shakespeare Apaixonado: divertido, envolvente e romântico!

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Shakespeare Apaixonado: Filme de John Madden O TEATRO SEMPRE FOI MOVIDO PELA PAIXÃO Todo mundo é fã de William Shakespeare. Aqui no Brasil seu nome anda de braços dados aos de Romeu e Julieta. Ser ou não ser... Há mais mistérios entre o céu e a terra... Sonhos de uma noite de verão... Hamlet... Espere aí, já fui longe demais! Talvez Shakespeare não seja tão popular por aqui. Muitos brasileiros ainda nutrem por ele alguma implicância, depois que Gwyneth Paltrow desbancou Fernanda Montenegro ao faturar o Óscar de melhor atriz por Shakespeare Apaixonado , filme de 1998 dirigido por John Madden. Parece tolice, mas depois de tantos anos, alguns ainda torcem o nariz para este filme. Pois há vários motivos para rever tal posição.           O primeiro deles é o próprio Willian Shakespeare, um dos maiores escritores de todos os tempos. Imaginativo, intelectualmente prolífico e dono de uma potência poética incomum, ele soube voltar seus dons para a arte de desvendar ...

Brazil – O Filme: uma distopia inspirada em George Orwell

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Brazil - O Filme: direção de Terry Gillian QUANDO MONTY PYTHON ENCONTRA GEORGE ORWELL No Brasil do começo dos anos 1980, o humor anárquico do grupo inglês Monty Python não era popular. Poucos tiveram a oportunidade de assistir no cinema ao filme Monty Python em Busca do Cálice Sagrado . Com o advento dos videocassetes, as fitas com os programas de TV da trupe britânica apareceram nas locadoras e ajudaram a atrair espectadores para as salas de exibição, quando chegaram os filmes A Vida de Brian e Monty Python – O Sentido da Vida . Na época, poucos enxergaram a conexão entre esses títulos e Brasil – O Filme , dirigido em 1985 por Terry Gillian – aliás, uma conexão sutil e se a menciono aqui, é apenas para criar um efeito narrativo.           Acontece que Terry Gillian, o diretor, foi um dos integrantes dos Monty Python – o único americano do grupo. Como cartunista, contribuiu com as animações que permeiam os filmes da trupe, além de ter colaborado nos roteir...

O Último Duelo: uma superprodução ousada

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O Último Duelo: direção de Ridley Scott UM DRAMA, TRÊS PONTOS DE VISTA O Último Duelo , dirigido por Ridley Scott em 2021, é uma prova de que a sétima arte já não é mais a mesma. O filme tem DNA de cinemão e consumiu um orçamento polpudo, mas amargou um retumbante fracasso nas bilheterias – não arrecadou 20% do que os investidores aportaram. É um filme ruim? Longe disso! É cinema de primeira, bem realizado, com ótimas atuações e uma história envolvente. Mas o público não se dispôs a visitá-lo nas salas de exibição. Parece que, ultimamente, está mais cômodo ficar em casa e consumir as ofertas do streaming.           Produções caras viraram artigos exclusivos para poucos cineastas – os Nolans, Camerons e Villeneuves da vida – ou restritos a temáticas infantilizadas – Godzillas, Coringas, Wolverines e Deadpools... Ousadias como O Último Duelo terão que se contentar com orçamentos modestos. O fracasso financeiro do filme é algo a se lamentar, pois arrefece o í...

Jurado Nº 2: os dilemas de se fazer justiça

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Jurado No 2: direção de Clint Eastwood UM PROFUNDO RESPEITO AO DEBATE Aos 93 anos, Clint Eastwood resolve rodar um novo filme. Os cinéfilos que acompanham sua carreira esfregam as mãos, ansiosos. Conferir a proeza, que o diretor realiza com invejável lucidez, é uma reverência obrigatória. Entretanto, Jurado Nº 2 , lançado em 2024, é mais do que uma curiosidade ou um produto do oportunismo comercial. É cinema pulsante, envolvente e repleto de conteúdo para ser degustado com prazer e, sim, reverência.           Vamos direto ao ponto: Jurado Nº 2 é um drama de tribunal, confinado no espaço mental em torno de um julgamento, onde o aparato do sistema judiciário é posto à prova em sua capacidade de fazer justiça. O cinéfilo atento já deve ter remontado ao clássico 12 Homens e Uma Sentença , dirigido em 1957 por Sidney Lumet. Lá, os jurados tentam decidir o destino de um jovem acusado de assassinar o próprio pai. Onze deles o consideram culpado, mas um tem dúvida...

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